6 - MISTÉRIOS DA CORRIDA
Correr é estar livre de
compromissos
Zelar pela saúde
Viver em liberdade
Ajudar ao semelhante
Que corre como todos correm
Porque todos correm igualmente
Com uma passada e logo outra
Visão de horizontes eternos
Que mudam conforme mudam os
pensamentos
Viver é estar livre para a corrida
Porque a liberdade é o movimento
Movimento traz novos estados de
estar
Muda-se o estado de estar
Um novo eu passa a existir
A mudança é a liberdade
O igual é uma prisão
Boa ou má pode ser
É como cantar e sempre mudar
A letra que corre através de
sendas
De notas que transcorrem
harmoniosamente
Contanto que haja discernimento
Para se fazer treinos adequados
Porém nada se explica com
facilidade
Pois há vezes que tudo mais parece
estar
Em caminhos conturbados e turvos
Como a alma que não sabe
O que sente mediante ao que
circunda
Sua própria vida
Entretanto nada é auto suficiente
A ponto de a nada e ninguém
recorrer
Pois o todo é um conjunto
Conjunto todo todo conjunto todo
junto
Pois deste extraímos o que não é
só
Uno está no todo
Solidão é morte
Que cai num abismo estranho escuro
A união
É pois um entremeado de caminhos
Tão obscuros quanto a solidão
Porém não sem uma saída
Pois estar parado é estar
aprisionado
Pois liberdade é movimento
Movimento é busca
De algo ainda desconhecido portanto
Em que há mistérios
Não trata-se somente de caminhos
como também
Soluções desconhecidas
7 - OS PASSOS
O primeiro passo
É medido pela consciência
Razão seleciona a direção
O corpo resiste à eterna
discrepância
Dos mais árduos itinerários
O segundo passo
É de tamanha importância
Que traz ao corpo o hábito
E à mente a fluência
O terceiro passo
Representa o limite da pergunta
O próprio desfragmentar da
realidade
Não há idade, falsidade ou
adversidade
Que resista à pergunta:
Por quê tantos passos?
Por quê andar?
É tarde para perguntar
Passaram-se 42 quilômetros
Não há o que se lamentar
Onde está a simplicidade?
Fragmentos da vida
Se mesclam ao êxtase
Quarto passo
Os aplausos dão vida à corrida
O silêncio da lembrança
Me retorna à mente
Onde está a simplicidade?
Qual é o caminho?
Fome, fome...
Recordar a beleza
É ficar com tristeza
Como pode isto concatenar?
Está... nos pequenos movimentos
Quinto passo
Mais imponente que aço
Amasso o barro
Sangue e ossos sentem
Lastros de ouro e vida
Em direção ao derradeiro passo
8 - CONTEMPLAR DE UM OBJETO
Espíritos do dia
Venham ao homem da noite
Suprema sensação de sutileza
Energia emergente
Poema que dá sentido
Ao vazio da vida
Ímpetos, glória, luz, vida
Harmonia que se faz presente
Na noite: um açoite contundente
Sofrimento, amargor, sentimento
Embebido na glória do cálice
Cálice de sonhos
Porventura hei de viver?
Hei de sonhar?
Não é o sonhar viver em âmbitos
divergentes?
Porventura hei de correr?
Viver e correr são a sensação do
dia.
Morrer e sonhar são a impetuosa
noite
Noite de luz, dia de sensações
Ímpetos dilêmicos
Fortes vontades
Superar o insuperável
Descrever o indescritível
Correr, e num letárgico sonho
mergulhar
Sonhar e fazer
Realizar e dormir
Sono que abre os olhos aos
diferentes matizes
Nunca vistos ou imaginados
Pois a criação...
A criação não vêm da vida
Senão da morte
A morte por isto não intimida
Pois quem vive não sabe o que é
viver!
Percepção é sutil
Grotesco é o entorpecimento da
ignorância
Na ânsia de muito viver
E nada saber
Noite, dia, luz, morte,
entorpecimento!
Liberdade, chaves, prisão, ilusão!
Correr, mesclar, pensar, viver!
Morrer é silenciar
Conhecer o que era insaciante
Pois quem vive não sabe o que é
viver!
O silêncio é a liberdade
A estagnação da mente é a prisão
Donde estão minhas chaves?
As esqueci?
Ou me fizeram esquecer?
Já que me conduziram à assim
proceder
Não! Não!
Meus ossos vibram
Meu sangue grita
Anseio pela liberdade
Quem sou eu?
Quem é você?
O quê é o mundo?
Nada é explicável
Pois tudo muda
Mas, ainda que assim seja...
Nunca desistimos
Da infindável busca
Da chegada que não existe
Pois quem vive não sabe o quê é viver!
É a vida: suprema e maior
Que os eternos perguntadores
Filósofos petulantes e insistentes
Diante dos olhos da verdade, da
realidade
Filósofos já mortos
Servirão de alguma coisa?
Seus sangues já não mais correm!
Seus ossos já não mais os
sustentam!
Diferentemente dos olhos e ouvidos
Que olham e ouvem a realidade
Do mundo no qual não mais vivem
Pois há muito estão mortos
Por isto meus amigos:
Quem vive não sabe o que é viver!
9 - CHAVES DE LUZ
Guerreiros das luzes
Salvar-nos-ão da decadência
Eterno e veemente dilema
Pérfida, denegrida, vida
Terrificantes sensações, trevas
Trevas que dominam a essência
Dilema de forças antagonistas
Somos protagonistas da morte
Do espírito perturbado
Guerreiros das luzes
Haverá solução?
Vontades contundentes
Que se declinam
Diante das imperiosas forças do
destino
Pérfido e desacalentado destino
Quem sou eu? Haverá luz?
Terá o valor da essência se
perdido?
Sim, agora notamos...
São responsáveis as aparências.
O baile, este no qual todos entram
A
festejar suas futilidades falsamente
Donde está você?
Notas porventura as mortes da
vida?
As contradições, dilemas?
Serão estes os concretos da vida?
Não, não há de ser...
O caos é a morte
Da flecha que se alquebra
Ao atingir os muros duma bela
mansão
Donde dentro dançam-se músicas
Trajando-se fantasias diversas
Matando-se a essência dos
dançantes
Por uma vida supérflua e banal
Rápida, descartável, marginal
Animal
Destituída do notável valor
Da sutileza artística
Sentimentos
Fúria do antro ainda é chama
Que cresce e queima
A farsa da falsidade
As chaves no entanto devem ser
forjadas
Para sair-se desta suntuosa mansão
Donde estamos confortavelmente
acomodados
A sociedade
10 - ETERNO DILEMA
Acaso não se pode fazer os dois
juntos?
Viver a vida corriqueira e
supérflua
De um desatabanado dia a dia
Exigido sem tréguas pela sociedade
E viver o profundo existencialismo
Fazer com que a alma imersa
Nos mais belos recônditos
Da literatura, música, pintura,
teatro
Em suma: da arte
Com todos os detalhes...
Uma visão holística da vida
Nuances, matizes, ângulos,
percaussos
Nunca antes vistos
Porque o profundo é o
experimentar.
Seria isto o viver?
Definitivamente não!
Amor!
Para consigo, para com os outros
O coração é a ferramenta
A vontade move-a num primeiro
ímpeto
A arte é o primeiro parafuso
Para apertar a união
Entre os seres humanos
Arte e coração!
Por mais simples que possa parecer
Um chorar, sorrir, sentir
Há de se convir para não esmorecer
Que o simples também é profundo e
belo
E também que qualquer ferramenta
Não tem função sem parafusos a
apertar
De nada valerá
Ao coração reivindicar
Sem à alguém amar
Ou destituir-se da arte de
rabiscar
Cantar, esculpir, interpretar
Representar, escrever e andar
Às luzes do inconcebível
Profundo existencialismo
Profundo e corriqueiro
Acaso não se pode fazer os dois
juntos?
Não seriam os dois fundidos
Numa só essência?
Forjando com audácia
Gana e prodigiosidade
A espada da coragem
Vontade e experimentação
Profundo e supérfluo
Prófulo Superfundo
A essência da vida!
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