66 – Mundo eterno
I – Eterno devedor
Não há de ser todo momento
especial?
Por que não este?
Na vida do homem a bem aventurança
é benção.
Tal é a proporção do sofrimento
Tudo parece ser eterno lamento
Vejo que devo aprender a lição
E louvar, agradecer antes de pedir
Orar e venerar antes de reclamar
Servir e trabalhar antes de
redarguir
Oh Deus! Quão grande é tua
benevolência
Nos caminhos que permeaste aos
pecadores
Como poderei pagar? Como
retribuir?
A eterna dívida que para contigo e
teus servidores tenho?
II – Eterna busca
Não é a ele que buscamos?
Não é ela quem tantos queremos?
Amor e alegria, as verdades
perenes
O fim último de nossa labuta
A derradeira alegria
O pranto final
A satisfação espiritual
Obrigado... Obrigado...
III – Eterna amizade
Assim passa
Que nas sendas espirituais
Muitas almas temos
Como amigas de coração
Que num momento
De fugaz eternidade
Se consuma uma surpresa
Um encontro inesperado
Donde resplandece uns olhos
Num olhar vago e longínquo
Tudo tão próximo e tão distante
No contato entre os mundos
Que em suma são um só
Floresce uma chama
Lapso vivaz
Alegre envolvente
Comovente que descreve
Antigos laços
IV – Benção
Bendita seja a própria realidade
Por Deus criada
67 - A grande receita
A vida deve-se engoli-la
Antes que ela te engula
Deves tu comanda-la
Antes que ela te comande
Deves doma-la
Antes que ela isto faça com você
Não existem surpresas na vida
Tampouco incovenientes
O que existe é gente perdida
É gente que nem sabe que quer
Se abisma diante do primeiro
alarme
Perdendo a sã consciência
Correndo sem sentido
Gritando palavras sem nexo
À estes sobrará a desventura
De perderem-se no labirinto
E quiçá não mais retornar
Se queres pois bem viver
Engole tu antes ela
Que ela antes a ti faça isso
O desespero é o cúmulo
O auge de um clamor desnecessário
Mais vale olhar à frente
Que ao chão se atirar
E aos prantos gritar
Até perder a voz
Não... Isto não é certo
Mais vale muito orar
E com convicção no mundo atuar
Fé inabalável e força de vontade
Ânimo, espírito e calor
São nossas forças
Que do nada surgirão
E o tudo construirão
Pois riqueza é capacidade de
produção
E há muito por atuar
Muito por fazer
Projetos e trabalhos
Armações das mais diversas
Quereres, vontades inacabáveis
Serão nossos emblemas daqui por
diante
Pois o futuro nunca está distante
Quando o hoje é tão intenso e
requisitado
Quanto o amanha que se pretende
chegar
Para isto servem os projetos
A vida pede projetos
Assim como um prato uma receita
Para que não vire uma dessas
receitas horríveis
Quem comanda a receita?
Quem escolhe o cardápio?
Quem faz a comida?
Quem a come?
Farás tu tudo isto?
Melhor que faças, já que...
A vida? deve-se engoli-la
Antes que ela te engula
68 - A maçã e o pecado
O prazer parcial não me seduz
Tudo o que é parcial é limitado
O conjunto é integral e harmonioso
Não tive alternativa
O prazer maior é contemplar a
vastidão do universo
Se comprazer no sublime silêncio
Em meio à tristeza
Não se iludir com a margem da água
Mas sim notar a profundidade
De lugares desconhecidos e
misteriosos
O prazer maior é tão sério e
consciente
Que se afasta até do sorriso
O prazer maior é sábio e sério
Percebe o quanto perece o que é
parcial
Não é morder uma maçã
Mas contemplá-la
A solidão é o maior prazer
Isto é sabido...
Mas não cumprido!
Qual a saída?
Sim, é esta!
Ensinar a verdade à todos
Definitivamente resolvido
Uma verdade maior
Além das ínfimas preocupações
mundanas
Além, Além, Além
Do pequenino desejo humano
Além, Além, Além
Da visão com os olhos
Percepção do espírito
É a que me leva à contradição
Ao dilema, ao atrito
Não é assim, acaso, o progresso?
Por isto ser mais perceptivo é
perigoso
Põe em risco à todos que te
circundam
Não te entenderão
Não irão sequer querer te entender
A verdade última um dia irá
prevalecer
O amor inunda o mundo
O amor integral
Onde o que era pecado se
transforma em virtude
No final o pecado é uma virtude
Depende do sentido dado ao ato
pecaminoso
Não se deve ver com os olhos
Senão com o espírito
O prazer parcial não me seduz
Mas sim aos que me envolvem
Me cerco de erro... Como acertar?
Não creio mais em meu próprio
corpo
A que ponto cheguei?
Meus sentidos não me convencem
Meus sentidos não me seduzem
O prazer dos sentidos me é
petulante
Chega a ser algo irracional
Sem fins plausíveis ou concretos
Praticamente uma ilusão
O caminho está por completo no
psiquismo
Caminho intelectual e sentimental
são a última verdade
Que dá sentido ao físico
69
- Visão com os olhos e visão com o espírito
Minha alma se confrange
Diante de tal dualismo
Ainda que possa entender
O que ocorre no pecado
Pois o pecador nunca é ciente de
seu pecado
Pois está limitado por sua
ignorância
Que a si mesmo é lhe desconhecida
Por isto não existe pecado no
mundo
O que existe é ignorância
Que deve ser combatida com o
desenvolvimento do potencial integral do homem
Para que passe a ver com o
espírito e não com os olhos
Não mais seja seduzido por sua
própria ignorância
Nem viva mais a completude de sua
limitação
Que descubra contemplar a vastidão
do universo
Com o espírito
Porque com os olhos não se enxerga
tal complexidade de realidade
Sejamos tristes, sérios e sábios
Fugindo à ignorância do prazer
limitado
E unindo-nos ao prazer integral
70 – Olhar à frente
Vamos chorar juntos
Chorar por min
Corar por você
Pois as nossas aventuras foram
errantes
Vamos orar juntos
Pois o futuro todavia nos espera
E tamanha é a benevolência de Deus
Que criou um tempo sem fim
Pois já previa nossas fraquezas
E por certo
Que levaríamos muito tempo até
enredar
Em veredas lineares
Não percamos mais pois
Nosso tempo
Que as mágoas se dissipem
Oremos
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